#1 - todas as coisas desejam um começo
hashtags: inaugurações, betty draper, férias, outono, patinetes
[dia 13]
este ˜˜blog já foi diversas coisas desde que o criei em abril, todas mais ou menos certas mas nenhuma certa o suficiente. custaram-me 5 tentativas e mais ou menos 20 horas de uma autoanálise extremamente chata para entender que o problema não é o blog mas minha relação com o tempo. mais especificamente: quanto tempo é necessário colocar entre uma vida e outra até sentir para além de qualquer dúvida, burocracia ou ataque de pânico às 4 da manhã que passado e presente foram devidamente separados.
a resposta é que não há resposta. é ir vivendo.
tem essa cena de mad men em que betty demite a babá dos filhos por nenhum motivo lá muito razoável e quando confrontada pelo segundo marido grita “i wanted a fresh start, ok? i’m entitled to that!” e ele grita de volta “there is no fresh start! lives carry on!” e num dia regular eu sou os dois alternadamente até ter vontade de deitar com a cara para o chão e mastigar o carpete.
este empreendimento tratará essencialmente dessa sensação, eu acho.
a verdade é que sinto falta de ser uma pessoa da internet. você entende o que isso significa. uma daquelas almas que 20 anos atrás sentaram na frente de um monitor de tubo encarando o chat uol e desde então. eu gosto de escrever sobre a experiência muito peculiar que é ser eu apenas para perceber que não tem nada de peculiar nisso e todo mundo meio que se sente igual. para mim essa sempre foi a graça dos blogs, e é o que me convenceu a voltar para cá a despeito dos boatos de que ninguém mais consome nada se não vier com uma dancinha. o leitor acidental pode me imaginar fazendo a dancinha se é o que te dá barato. ou fazer sua própria dancinha enquanto lê. somos flexíveis.
esse texto foi publicado sem que o enviasse para a lista de contatos, uma coisa quem viu, viu. eu poderia dizer que sinto muitos pudores em invadir a caixa de entrada alheia com uns blocos de texto de 78 parágrafos que tratam de essencialmente NADA. e é verdade. num nível mais egocêntrico, no entanto, eu quero lembrar de como é escrever para mim. pelo mero prazer de rir de minha própria tontice - esse luxo que nunca me ocorreu que poderia perder até que, e então era muito tarde, e o retorno foi ficando exponencialmente mais difícil a cada concessão feita, e eu já mencionei que estou tentando fazer este blog acontecer desde abril?
há nesse momento uma quantidade abissal de silêncio ao meu redor. não sei quando foi que me dei conta. eu estava tão ocupada com o monólogo interno. era um motorzinho me roendo o juízo dia e noite. agora, subitamente: eu e eu mesma. e descubro que não fomos reapresentadas. não, é mais do que isso. percebo que em certa medida, em muitas medidas, nunca nos conhecemos. e sendo este um momento tão impróprio quanto qualquer outro, volto aos primórdios. quando sentava diante de um editor de texto do zip.net e escrevia em um blog quase-anônimo, e isso era uma coisa que fazia sentido.
quando olhar por cima dos ombros não entrava em meu rol de preocupações.
Seja bem-vinda! Criei minha newsletter (que em dois meses conta com duas miseráveis edições) por sentir falta dos blogs também, de fazer amizades via blogs, de descobrir que um amigo lê o mesmo blog que só você achava que lia e por aí vai. Bons tempos.
se puder se inscrever no meu 🥰